pra fazer um trabalho humanitário não basta construir castelos de tijolos com pessoas dentro. é fundamental que se possa atravessar a barreira entre o próprio mundo e o mundo que se coloca. de nada adianta dar as mãos e manter as luvas. requer certa nudez. a essência das ações e reações humanas com o desequilíbrio das relações. algo me incomoda mais que o suor com gotas de mim mesma pelo meu corpo.
desde terça-feira, dia 03 de março, eu estou em uma das EPFs (Escola Professores do Futuro) de Angola, no municipio de Ramiro. esta escola tem o reconhecimento do governo e tem por objetivo a formação de professores para a atuação em escolas primárias. a unidade que estou é a mais estruturada do país, muito pelo fato de ser a mais próxima da capital Luanda e ser a mais antiga de Angola. o espaço físico é enorme e muito bem conservado. formam-se aqui 90 estudantes por ano. cada um deles deve pagar duas matrículas no início do programa: a primeira de 150 doláres e a segunda de 650. o curso tem a duração de 3 anos e durante este período os alunos vivem dentro do projeto e recebem da escola alimentação e moradia. a EPF em Ramiro se mantêm com a ajuda do governo e de empresas parceiras da organização.
dentro de tudo isso tem algo que não me agrada de jeito nenhum. o prédio dos funcionários da ADPP é separado do prédio dos alunos e professores da EPF – a EPF é um dos projetos que fazem parte da ADPP. a grande questão não está na divisão em si, mas na forma como ela é feita. desde ontem nós estamos vivenciando problemas com a água. a máquina que a bomba até as encanações está com defeito e por isso estamos usando a água dos poços e tomando banho com baldes. é comum acontecer isso na escola e enquanto o defeito não é resolvido os alunos ficam sem poder beber uma gota de água. podem beber aqueles que tiverem dinheiro para comprar uma garrafa de 500ml por 2 doláres – quantia que a maioria dos estudantes não possui para matar a sede sempre que ela aparecer. fiquei impressionada quando percebi que no prédio dos funcionários da ADPP havia água para se beber, e esta era exclusiva deles. além disso, quando o bombeamento da água está funcionando também há outra divisão. em frente a escola há um mundo colorido de azul-oceano e é esta a água usada por todos no local. porém para os estudantes chega uma água salgada, vinda de uma máquina que não trata a água da mesma forma que a dos funcionários. os vidros das janelas destas pessoas não alcança os passos de nenhum dos alunos. a distância, além de cegar, cria dois espaços bem distintos dentro de um lugar com pessoas que se dizem estender as mãos. as refeições também são separadas. no café-da-manhã dos alunos é sempre servida uma papa: feita de água, farinha de milho e açúcar. é gostosa, mas é servida todos os dias sem exceção. enquanto isso no prédio dos funcionários serve-se leite, queijo, geléia, pão, café…
mesmo aqui há capitalismo. há todo o pensamento marxista. há a divisão do poder por aqueles que detêm os meios. decepcionante…
decepcionante e contraditório.
exatamente! há sim o sentimento, mas falta alma, falta entrega, falta a tal nudez…
Poderás indicar-me através do Google Earth onde é a localização da escola?!
Agradecia imenso!!!
gi.crvl@gmail.com
Admiracao.
é o que eu tenho por você!
Onde está localizada a escola, exactamente?
A escola eu estou trabalhando fica na vila de Lândana, no município de Cacongo, província de Cabinda.
e fica em Angola.
Eu referia-me mesmo à EPF da ADPP em Ramiro. Alguém muito próximo irá para lá em breve e gostavamos de saber o sítio. (Sempre nos sentimos mais perto!)
então mande a eles abraços que eu não pude dar quando fui embora…