Feeds:
Artigos
Comentários

faz cinco anos que eu não preencho essas páginas… também faz cinco anos que o tempo se tornou mais linear dentro de mim… acreditem: eu era uma incontrolável montanha russa. porém, a linearidade alcançada não se traduz em uma linha uniforme de planejamento dos dias de amanhã, mas em um foco e ideologia mais claros, e em uma compreensão melhor dos contornos e das fronteiras que atravessam os interesses políticos apresentados nas arenas populares. Angola me inspirou a concluir minha graduação em Serviço Social, e hoje tenho convicção de que não haveria outra profissão para dar vasão aos meus anseios. ao longo dos anos, aproximei do público envolvido com a criminalidade, somando hoje cerca de quatro anos de experiência na área. ao optar por este caminho, eu me propus conhecer profundamente os indivíduos e suas amarras sociais, para quem sabe oportunizar reflexões sobre outras saídas possíveis. ilusão de iniciante foi imaginar que os esforços deveriam se concentrar nos indivíduos, já que a eles era ofertado o poder da escolha. bem, nem lá, nem cá. nem só o indivíduo, nem só a estrutura. a questão é que a estrutura não quer estes indivíduos com os quais hoje eu trabalho – adolescentes autores de ato infracional -, e por isso, sinto que pouco do que faço é de fato efetivo. além disso, a estrutura faz-se preponderante na medida em que a justiça mostra-se seletiva, e aplica as medidas socioeducativas para adolescentes com classe, cor e endereço pré-definidos. confesso, que o início da minha jornada foi mais motivador, todavia lidar com a realidade é sempre a melhor das alternativas. contudo, ver o real escancarado e quase ninguém discordando, quase ninguém reclamando, quase ninguém manifestando é remar contra a maré, apesar de que eu sempre soube que em minha profissão eu iria encontrar pensamentos divergentes. eu só não imaginava a carga emocional e física acarretada ao assumir tal função, ao que mesmo apesar dos pesares, chego a mesma conclusão do início: é preciso força para continuar remando.

em 05 de novembro de 2010 ela encerrava o primeiro entrelaçar dos poros. cumpria-se ali os primeiros passos de olhos que começavam a enxergar. vivera até então dias pintados em fotos, em imagens exibidas em telas de cinema e contados nas histórias de papel. insatisfeita ela levou os próprios olhos pra dar conta daquilo que lhe inventavam, porque tudo o que a ela se repassava, atravessava antes a falta de muros da imaginação. realidade mesmo só existia a de cada um. e foi assim que ela quis ver a própria realidade fundida debaixo das casas de Angola e do sertão brasileiro. não dava mais para separar vidas entre estas paredes de concreto. era estranho como desde então os seus pés seguiam a própria pele, e o caminho era sem rota, sem distância, perto demais de si mesma.

“um fim absurdo para meus violentos esforços! tomo alavancas e picaretas para demolir as duas casas, exercito-me em tornar-me capaz dum trabalho de Hércules, e, quando tudo está pronto e em meu poder, percebo que a vontade de erguer uma única telha de cada um dos telhados desapareceu! meus velhos inimigos não conseguiram derrotar-me. chegou o momento preciso de vingar-me em seus representantes. poderia fazê-lo e ninguém me poderia impedir. mas para quê? não me interessa ferir: já não tenho forças para levantar a mão! Dir-se-ia que só trabalhei durante todo esse tempo para terminar fazendo um belo gesto de magnanimidade. talvez não seja esse o caso. o que perdi foi a faculdade de gozar da destruição deles e sinto-me por demais preguiçoso para destruir sem motivo”.

Sr. Heathcliff, personagem de
Emily Brönte em O Morro dos Ventos Uivantes

“mas sinto-me melhor por ter um gênio melhor, que me faz perdoar-lhe. e demais, eu sei que ele me ama e, por esta razão, eu também o amo. Sr. Heathcliff, o senhor não tem ninguém que o ame. e, por mais miseráveis que o senhor nos torne, teremos sempre a compensação de pensar que a sua crueldade provém de sua miséria, que é ainda maior. o senhor é um mísero, não é? ninguém o ama… ninguém chorará pelo senhor quando morrer! oh! não quereria nunca estar em seu lugar!”

Catherine Earnshaw, personagem de
Emily Brönte em O Morro dos Ventos Uivantes

” Meus maiores sofrimentos neste mundo têm sido os sofrimentos de Heathcliff; fui testemunha deles e senti-os todos, desde o começo. Meu maior cuidado na vida é ele. Se tudo desaparecesse e ele ficasse, eu continuaria a existir. E se tudo o mais ficasse, e ele fosse aniquilado, eu ficaria só em um mundo estranho, incapaz de ter parte dele. Meu amor por Linton é como a folhagem da mata: o tempo há de mudá-lo como o inverno muda as árvores, isso eu sei muito bem. E o meu amor por Heathcliff é como as rochas eternas que ficam debaixo do chão; uma fonte de felicidade quase invisível, mas necessária. Nelly, eu sou Heathcliff. Sempre, sempre o tenho no meu pensamento. Não é como um prazer – porque eu também não sou um prazer para mim própria -, mas como o meu próprio ser. Portanto, não fale mais em separação: é impraticável”.

Catherine Earnshaw, personagem de
Emily Brönte em O Morro dos Ventos Uivantes

“gostaria de reter-te até que ambos morressemos! que me importaria o que sofresses? não dou importância a teus sofrimentos. e por que não sofrerias? eu sofro! esquecer-me-às? serás feliz quando eu estiver debaixo da terra? poderás dizer, daqui a vinte anos: ´este túmulo é de Catarina Earnshaw. amei-a faz muito tempo, e fui bem infeliz quando a perdi. mas já passou. amei muitas outras depois disso. meus filhos me são mais caros do que ela e, quando eu morrer, não me alegrarei por ter de ir ao seu encontro. ficarei triste por ter de abandoná-los!´ não é isto que haverás de dizer, Heatchcliff?”

Emily Bronte, em O morro dos ventos uivantes

“o que me faz mais sofrer, afinal, é esta prisão frágil. estou cansada de ficar presa aqui. tarda-me fugir para aquele outro mundo glorioso e lá ficar para sempre; tarda-me ter de vê-lo vagamente através de minhas lágrimas, suspirar por ele por trás das muralhas dum coração cheio de dor, em vez de esrar realmente nele e com ele. Nelly, tu pensar que és mais feliz do que eu e que tens mais saúde. estás em plena saúde e em pleno vigor! tens pena de mim… mas em breve tudo isso mudará. eu é que terei pena de ti. estarei incomparavelmente além e acima de vocês todos. admiro-me de que Heathcliff não queria estar perto de mim!”

Emily Bronte, em O morro dos ventos uivantes

abismo

“e eu rezo uma oração… hei de repeti-la até que minha língua se entorpeça… Catarina, possas tu não encontrar sossego enquanto eu tiver vida! dizer que te matei, persegue-me então! a vítima persegue seus matadores, creio eu. sei que fanstamas têm vagado pela terra. fica sempre comigo… encarna-te em qualquer forma… torna-me louco! só não quero que me deixes neste abismo, onde não te posso encontrar! oh Deus! é inexprimível! não posso viver sem a minha vida! não posso viver sem a minha alma!”

Emily Bronte, em O morro dos ventos uivantes

“agora estou cansada de aturar e sentir-me-ia feliz se achasse um meio de vingar-me, contato que não recaísse a culpa sobre mim. mas a traição e a violência são lanças de duas pontas. ferem os que a elas recorrem mais gravemente do que a seus inimigos”.

Emily Bronte, em O morro dos ventos uivantes

essa virtualidade me encanta quando me vejo esbarrando nas esquinas que nunca fui… hoje publicaram uma matéria no site da Global Voices sobre Alambamento, o casamento tradicional de Angola. para complementar o conteúdo a jornalista utilizou fotos e textos meus, gravados tanto neste blog quanto na minha memória… a propósito, o meu post sobre o Alambamento foi o que mais gerou repercussão.

Confiram a matéria: http://pt.globalvoicesonline.org/2010/08/29/angola-o-alambamento-e-os-rituais-do-casamento/